quinta-feira, 8 de maio de 2008

Resumo: A História de Israel a partir dos Pobres (Jorge Pixley)

1 RESUMO DA OBRA
Jorge Pixley na obra A história de Israel a partir dos pobres – da Editora Vozes, de Petrópolis-RJ, em 1990 –, busca mostrar de forma clara, objetiva e sintética os períodos da história de Israel, porém sobre a ótica dos pobres e excluídos da época.


1.1 Chaves de Leitura
Para entender o sentido da história é necessário notar que os documentos deixados por qualquer grupo social sempre contêm interesses que ocultam o sentido dos acontecimentos. Deste modo, o autor propõe duas chaves de leitura que permite compreender melhor a história de Israel: uma teológica e outra sociológica.
A chave teológica tem como base o êxodo, a saída da escravidão do Egito. É o evento originário do povo de Israel. Assim, o aspecto teológico consiste no fato de que um deus que legitima a opressão dos camponeses, por mais solene que se apresente seu culto, não é o deus verdadeiro. Pois o Deus verdadeiro é aquele que ouve o clamor dos oprimidos e os liberta de sua opressão.
A chave sociológica fundamenta-se no modo de produção asiático ou tributário. Esta sociedade é composta de três grupos: O Povo formado por diversas e pequenas aldeias constitui as unidades produtivas da sociedade. O Rei que era o real proprietário de tudo e que por isso recebia do povo uma parte da produção, e em troca destes tributos garantia às aldeias a proteção do exército, o benefício das obras como controles de inundação e estradas, e a suntuosa celebração das festas religiosas. E por fim, os servos do rei que garantiam a segurança, os cultos, as obras e a manutenção do Estado, custeados pelo tesouro real. Assim, todos, à exceção do rei, eram escravos.


1.2 As origens de Israel como nação de tribos
A data estabelecida para o começo da história de Israel é de 1220 a.C., data estimada do êxodo. Assim pode-se notar três teorias sobre a ascensão de Israel como um grupo tribal:
A primeira fundamenta-se na unidade racial primitiva, dizendo que as histórias dos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó supõem uma consciência de família entre as tribos, que descendiam dos doze filhos de Jacó.
A segunda, na unidade de Israel em sua prática de pastoreio, visto que as tribos de pastores se uniram com o tempo por um comum estilo de vida para poderem enfrentar os camponeses que usavam a terra para cultivar vegetais.
A terceira, na insurreição camponesa que propõe a unidade das tribos como resultado de uma rebelião comum contra os reis da Palestina.
Tendo o êxodo como um evento histórico, provavelmente os hebreus (“hapiru”) não teriam tido a coragem de enfrentar uma migração revolucionária sem uma religião fundada num Deus que ouve o clamor e liberta o seu povo. Com isso, os tributos que eram pagos e que asseguravam a escravidão eram agora destinados a Deus que participava da vida do povo.


1.3 Surgem os Reis sobre as tribos de Israel
Devido a grande corrupção dos juízes na administração da justiça; à produção que começa a gerar excedente, promovendo a desigualdade entre o povo; e ainda a pressão dos filisteus vindos do mar para implantar-se nas planícies; surge o clima favorável para a centralização política na segunda metade do século XI sobre o título de rei (melek).
Inicialmente, Saul que reúne um exército e combate os filisteus. Porém, ele não possui um sacerdócio oficial, nem um aparelho civil desenvolvido para cobrar impostos. Diferentemente dos cananeus, o rei não era um soberano absoluto, pois o rei supremo era Javé.
Davi, além de militar era um líder político que mudou profundamente a nação. O fato importante de sua história consiste na tomada da cidade de Jerusalém. Além da privilegiada situação geográfica e estratégica para a defesa, Davi a conquistou com seu próprio exercito, fazendo ela a sua cidade. Além disso, ela contava com um desenvolvido sistema monárquico que acabou se tornando os pilares do governo do novo rei de Israel. Contudo, Dabi coquistou um império para assim sustentar um significativo sistema de Estado sem impor tributos a Israel. Também Davi provocou uma profunda transformação teológica na religião: trouxe a arca da aliança para a sua cidade tentando assim justificar o seu poder divino, como um aliança não mais entre Javé e o seu povo, mas entre Javé e Davi, o guardião do povo.
Com Salomão, o governo da nação tornou-se piramidal. Além dos tributos em bens materiais ao povo de Israel, ele ainda introduziu o tributo em trabalhos forçados, a corvéia. Diante disso, o templo fora construído e a riqueza e o lucro atingiram as mais altas proporções, porém ambas as custas da exploração do povo. “O Javé de Salomão não é o mesmo Deus que ouvira o clamor dos oprimidos no Egito. O Deus dos pobres fora capturado pelos seus dominadores para servir de legitimação da opressão infligida aos camponeses de Israel” (p. 34).


1.4 Revolta das tribos contra a dinastia davídica
Antes da morte de Salomão, houve um levante – que acabou sendo um fracasso – das tribos encabeçado por Jeroboão de Efraim. Porém, com a morte de Salomão, e o descontentamento das tribos, Jeroboão encontrou um terreno fecundo para seu governo.
Roboão, o filho de Salomão se recusa a seguir os pedidos dos anciãos em aliviar a servidão do povo (1Rs 12, 4). Deste modo, as tribos de Israel proclamam Jeroboão como rei que fez de Siquém sua capital inicial, e mais tarde Tersa.
Jeroboão estava se transformando numa liderança militar do tipo de Saul. Era responsável pelo exército de Israel, porém não controlava um sistema de arrecadação de tributos com sua respectiva burocracia civil. Tampouco mantinha um templo e o sacerdócio dependentes da coroa. Assim, não havia opressão, visto que o rei não possuía legitimação religiosa como o rei de Judá. Contudo, os profetas ainda irão apoiar Jeroboão pois era um levante contra a opressão.


1.5 A dinastia de Amri (884-841 a.C.)
Este constituiu um período negro da história de Israel. Um tempo onde os reis quiseram, por razões de estado, separar o povo de sua fidelidade exclusiva a Javé. Aparece aqui os profetas Elias e Elizeu para fazer frente a esta crise.
Amri era um chefe militar que acabou tendo usa série de desafios para enfrentar: Judá, no sul, conquistara todo o território de Benjamim e parte de Efraim; ainda se aliara aos arameus de Damasco para fazer frente a Israel. A maior parte da Galiléia e da Transjordânia estava agora nas mãos dos amorreus. Tudo isso, impelia Amri a uma tensão e recuperação dos territórios perdidos. Para atingir tal objetivo, ele consolidou uma política de fortalecimento interno e de alianças externas. “A estratégia política de Amri e sua linhagem foi praticamente uma: estabelecer em Samaria, sua capital, um culto oficial a Baal, sem impedir que os santuários de Javé em Betel e Dã continuassem funcionando. Baal seria o deus da Samaria e Javé o deus das tribos” (p. 46).
O propósito de Amri era estabelecer em Israel uma nação segundo o modelo cananeu. Elias e depois de sua morte Elizeu, profetas de Javé, foram os líderes da oposição. Prepararam a queda dos amridas em 841 a.C.


1.6 A dinastia de Jeú (841-752 a.C.) Ortodoxia e exploração
A dinastia Amri cai com um golpe militar extraordinariamente sangrento, dirigido por um certo Jeú. Com o apoio do profeta Elizeu, Jeú elimina da Samaria o culto a Baal, matando seus sacerdotes e profetas, e também expurgando aqueles que de identificavam com o culto a Baal. Restou a Jeú decidir oque fazer com a capital de Amri, Samaria, já que ela era de estilo praticamente cananeu. Assim, com uma capital o estado de Israel tornara-se muito mais forte que o de Jeroboão, no principio.
Porém, havia aqui um dado novo. Os profetas podiam de acordo com a vontade de Javé, retirar o seu apoio ao rei. Porém, o sacerdócio de Javé estava em Betel e estes se sentiam endividados ao rei pela restauração feita após a perseguição da dinastia Amri. Apenas a voz de Amós se ousa em denunciar as injustiças do rei.
Anos mais tarde, surgia o último grande profeta de Israel, Oséias. Para ele a existência de um governo monárquico em Israel era simplesmente a manifestação de um problema cuja causa era mais profunda: a busca desenfreada de bens materiais. A vida de Israel reduzira-se (prostituição) a uma corrida ao trigo, mosto, azeite, prata, lã e linho, sem reconhecer que a provisão estável para as necessidades da vida provinha da justiça e do culto a Javé.


1.7 Enquanto isto, o reduto davídico, Judá
Desde a rebelião das tribos contra a casa de Davi (931 a.C.) até a destruição da Samaria (722 a.C.), a antiga tribo de Judá manteve-se como um pequeno estado à parte. Com a incorporação dos territórios de Israel ao sistema Assírio e com a dispersão forçada dos lideres da Samaria, Judá tornou-se o único vinculo histórico com a experiência revolucionária das tribos de Israel.
No livro das Crônicas, quase tudo que diz respeito ao reino de Israel é omitido. É a história do reino de Judá como verdadeiro Israel e de Jerusalém como cidade santa. O reino de Israel é considerado apóstata desde o inicio por ter-se rebelado contra Davi, o eleito de Javé.


1.8 Os profetas no final do século VIII em Judá
No reino de Israel uma série importante de profetas se sucederam. Depois da sua queda, surgiram pela primeira vez profetas importantes em Judá. Houve dois grandes profetas cujas tendências apresentam grandes diferenças, um da capital e outro do campo.
Isaías era de Jerusalém. Condenou os latifundiários do país (Is 5, 8), os governantes que não faziam justiça aos fracos (Is 10, 1-4). Era-lhe particularmente detestável o fato de as lideranças se apresentarem como gente muito religiosa, consagrada a Javé, enquanto viviam da exploração do povo (Is 1, 10-17). Porém, a inovação encontrada em Isaías é que para ele o marco referencial de sua atividade era a teologia davídica e não tanto o êxodo. A esperança para o povo de Israel (Judá) é a vinda de um rei bom, o Messias, que salvará o povo.
Miquéias foi um profeta camponês e o mais radicalmente popular de todos os profetas da Bíblia. Segundo seu modo de ver, os chefes se alimentavam da carne do povo (Mq 3, 1-4). Pecado não eram as más obras dos governantes, mas a própria existência da cidade de Jerusalém (Mq 1, 5 LXX). Aqui se nota como o campo sofria as conseqüências da exploração da cidade. Assim, o povo deverá atrever-se, em nome do Javé do êxodo,a destruir o templo que os sacerdotes diziam ser a morada de Javé e matar os reis que os sacerdotes diziam ser os eleitos de Javé para “apascentar” seu povo. Isto significa um retorno ousado e revolucionário ao Deus de Moisés.


1.9 A Palestina sob a hegemonia assíria (738-630 a.C.)
A Assíria estabeleceu como uma de suas prioridades controlar todo o acesso terrestre ao Egito. Para assegurar o controle desta rota, era também necessário do ponto de vista do império ter regimes amigos nas serras da Palestina onde estavam os reinos de Israel e Judá.
Após um confronto, Israel é reduzida à montanha de Efraim em torno da capital Samaria. No ano de 722, sendo rei Sargão II, a cidade de Samaria foi capturada, sitiada e convertida numa nova província. Israel ficou divido em quatro províncias assírias. Judá em 734, converteu-se em um reinado satélite que rendia tributos a Assíria e se submetia à sua política exterior. Porém, após a campanha de Senaquerib em 701, fica para o reino avassalado de Jerusalém (Judá) somente a cidade e seus arredores. O restante foi divido entre os reinos filisteus de Acaron, Ascalon e Gaza.
Israel ficou desde a queda da Samaria em 722 totalmente incorporado a Assíria, e Judá desde 734 submisso como reino vassalo. Sua margem de negociação diminuiu quando foi reduzido praticamente a sua capital em 701. Com esta incorporação do território de Israel ao império assírio, ficou Judá como o herdeiro da identidade nacional e religiosa do povo que se conhecia como povo de Javé.


1.10 O Projeto de um novo Israel (640-609 a.C.)
Com o colapso do poderio assírio, os dirigentes da sociedade judaica fizeram um significativo esforço para restaurar Israel. Foi a chamada Reforma de Josias. Os textos de 2Rs 22, 8-10 e 2Cr 34, 14-18 informam que a política renovadora de Josias foi inspirada no “livro da Lei” (Deuteronômio) encontrado no templo. Josias procurou legitimar o reino sobre uma Aliança entre Javé, o rei e o povo (2Rs 23, 1-3), onde o rei assumia o papel de intermediário e fiador da aliança. Assim, o agente capaz de executar as profundas reformas sugeridas pelo livro da aliança não podia ser outro senão o rei de Jerusalém.
Surpreendente é que Jeremias denuncia a reforma de Josias como uma conversão só aparente (Jr 3, 6-13). Samaria, diz ele, foi mais honesta que Jerusalém, pois nunca pretendeu converter-se. A conversão de Jerusalém é mentirosa, pois a injustiça continua sendo a base da vida nacional. Com a diferença de que agora pretendem ter Javé de seu lado. Converteram o templo escolhido por Javé em um covil de ladrões! (Jr 7, 11).


1.11 O período de hegemonia babilônica (605-539 a.C.)
Com a morte de Josias em mãos do rei do Egito em 609 (2Rs 23, 29-30), o Egito extorquiu tributos do país por quatro anos. Em 605, Egito e Babilônia, disputam o controle da Síria e da Palestina. Babilônia derrotou o exército egípcio na batalha de Carquemis, tornando-se assim, a nova potência hegemônica na Palestina.
Judá começa então a pagar tributos a Babilônia. Mas pouco antes da morte do rei Joaquim, em 598, Judá parou de pagar os tributos. Como punição, Nabucodonosor levou o rei (filho de Joaquim) e a família real para a Babilônia e deixou Sedecias, tio de rei, como governante. Sedecias ambicionava tornar independente a Palestina sob a liderança de Judá. Para isso, convocou os reis dos povos súditos de Edom, Moab, Amon, Tiro e Sidônia (Jr 27, 2-3). O resultado foi desastroso. Nabucodonosor, sitiou Jerusalém tomando-a no ano 586. Destruíram os muros e seu templo e incendiaram a cidade para torná-la inabitável. Assim, Judá estava completamente desorganizada. Segundo parece, acabou sendo anexada a província de Samaria, depois do assassinato de Godolias.
Os deportados da Babilônia esperavam a restauração de Joaquim ao trono, Jeremias foi um desmancha-prazeres, pois urgiu que se radicassem naquela terra de onde não regressariam senão depois de setenta anos (Jr 29). Jeremias via a salvação do povo através do distanciamento da casa de Davi e do sacerdócio de Jerusalém sob a proteção da Babilônia. Um estado soberano e uma sólida amarração com as classes populares seria o projeto necessário a longo prazo. A curto prazo, para livrar o povo do governo davídico que não respondia aos seus interesses, podemos citar esta análise de Jeremias.
A colônia de israelitas que viviam na Babilônia não deixaram de sonhar com seu regresso a Jerusalém. Seus sentimentos de nostalgia se recolhem belamente no triste canto do Salmo 137. Assim, surge o Dêutero-Isaías ou Segunda Isaías, afirmando o propósito de Javé em restaurar sua terra. As importantes promessas eternas feitas a Davi se cumprirão não em um novo rei mas em uma nova situação paradisíaca para todo o povo (Is 55, 1-3). Seus sofrimentos tem uma função salvífica. As nações irão maravilhar-se e crerão quando Javé exaltar o servo antes castigado (Is 52, 13 – 53, 12).


1.12 O período da hegemonia persa (539-332 a.C.)
Em 539, Ciro entra na cidade da Babilônia. Encontra, entre outros, a comunidade dos descendentes dos cativos trazidos de Jerusalém por Nabucodonosor. Assim, promulgou um edito que autoriza a reconstrução do templo de Jerusalém. Deste modo, o novo templo era construído pelos exilados, que questionaram a legitimidade dos que viviam na Palestina. As genealogias eram armas que os exilados esgrimavam contra os israelitas do país.
A nível ideológico este conflito de poder é percebido nitidamente nas profecias da época. Pelo lado dos exilados, encontramos os profetas Ageu e Zacarias que apoiaram com suas profecias a reconstrução do templo. Pelo lado oposto, o lado dos que estavam sendo excluídos de participação nesse projeto, se situam os profetas anônimos, cujas profecias foram recolhidas no livro de Isaías (Is 56 – 66, conhecido por todos como o “Trito-Isaías”).
Inicialmente pelos profetas que falaram pelo povo, negam qualquer interesse de Javé pelo templo que a Golá (exilados, segundo a terminologia hebraica) está construindo, pois Javé é o criador de tudo e não necessita dele. O jejum desejado por Javé é libertar os oprimidos e alimentar os famintos, e não o inclinar a cabeça como juncos; isto não lhe consegue a atenção. Javé é um Deus que habita nas alturas mas também com os oprimidos e humildes da terá (Is 57, 15). As genealogias são contrapostas pois Javé aceita até eunucos (Is 56, 1-7) que guardam o sábado e a aliança.
Pelo lado da Golá os profetas Ageu e Zacarias deram grande impulso a construção, interpretando as limitações econômicas como resultado das suas poucas ofertas e seus fracos esforços em prol desta causa. Ageu via em Zorobabel o comissário responsável pela obra ante o império, um novo Davi escolhido por Javé como sinete para “destruir o poder das nações”.
No ano 20 de Artaxerxes (445 a.C.), o rei enviou a Jerusalém Neemias, um israelita de sua confiança, com uma missão bastante ampla. Devia reconstruir os muros de Jerusalém, povoar a cidade e tomar as medidas civis necessárias para consolidar a região. Judá ficou assim separada da Samaria, com sua própria administração (persa).


1.13 O período da dominação helenística (332-167 a.C.)
Alexandre Magno em sua passagem pela Palestina em campanha para conquistar o Egito conseguiu sem grandes dificuldades submeter ao seu controle as províncias pertencentes à Pérsia. O domínio de Alexandre mesmo foi breve, pois morreu na Babilônia em 323 a.C. A partir do ano 301 a Palestina ficou submetida definitivamente aos reis helenísticos instalados no Egito, os ptolomeus. Este domínio dos ptolomeus durante um século deu à Palestina um dos mais longos períodos de paz que jamais conheceu em sua história. Foi, contudo, um tempo de exploração econômica muito aperfeiçoada.
Vale lembrar que as cidades não foram colonizadas somente por soldados, mas também por civis gregos ou helenizados. Através deles os ptolomeus podiam controlar a população nativa e explorar mais intensamente a agricultura. Assim, Jerusalém tornou-se uma cidade sacerdotal à frente da “etnia” judaica. O sumo sacerdote assumiu funções administrativas, assessorado por um conselho de notáveis chamado “gerusia” (e que nos tempos de Herodes recebeu o nome de Sinédrio).
A única obra bíblica situada com segurança no período helenístico é o Eclesiástico, uma magnífica produção literária que reflete a serenidade e confiança com que a aristocracia judaica podia enfrentar os perigos do momento.


1.14 A insurreição macabéia e o governo hasmoneu (167-63 a.C.)
Entre os anos 167 a.C. e 63 a.C. a história de Israel está marcada pela atividade da dinâmica família dos hasmoneus. Eles levaram os israelitas primeiro a rebelar-se contra as leis opressivas dos selêucidas que atentavam contra as leis de Deus e depois coroaram sua atividade com a conquista de todos os territórios dos antigos reinos de Judá e Israel. A família dos hasmoneus era composta por sacerdotes levitas (não aaronitas), residentes no povoado de Modin na costa ocidental da cordilheira central da Palestina. O poder tanto civil quanto religioso permaneceu com os hasmoneus até a invasão de Pompeu no ano 63 a.C. Eles tinham a intenção cada vez mais clara de restaurar a nação de Israel segundo o modelo davídico.
A política hasmonéia pretendia, à força das armas, restaurar a religião de Javé. Tinham seguramente muito apoio popular. Na ótica popular, o mais importante da sua administração foi sua atuação nas cidades helenísticas. Estas foram integradas à força à nação governada desde Jerusalém pelo sumo sacerdote de Javé (que também era, de forma secundária, rei). A cidade que não aceitasse essas condições, totalmente opostas aos costumes gregos, era destruída e seus habitantes passados à espada, como acontecera com Péla nos tempos de Alexandre Janeu (Flávio Josefo, Ant XIII, 397).


1.15 O período de dominação romana sobre Israel (63 a.C a 135 d. C.)
Com tudo isso se preparou o terreno para se entender os dois últimos séculos de Israel, de 63 a.C. a 135 d.C., séculos de intensas lutas populares que terminaram com a morte violenta de Israel em mãos da repressão brutal das legiões romanas. De Israel sobreviveu à hecatombe somente a “diáspora”, uma grande comunidade religiosa dispersa pelo mundo todo, desarraigada do seu solo e da natureza camponesa que constituía a essência do projeto israelita. Também sobreviveu outra comunidade religiosa, a Igreja cristã, que tem suas raízes em Israel, mas que igualmente perdeu suas bases camponesas.
Durante os duzentos anos do domínio romano sobre Israel até seu desaparecimento definitivo, houve muita troca na administração da região. Uma das preocupações dos romanos foi a defesa da fronteira oriental do império. Durante todo esse tempo o inimigo principal de Roma foram os partos de além do Eufrates.
Um dos propósitos do império em seu controle sobre o território e a população da Palestina era obter riquezas através de um complexo sistema de tributos e impostos. Assim, o império extraia riqueza da Palestina por três vias: 1) diretamente, mediante os cobradores de impostos que arrecadavam tributo de toda a população; 2)mediante os conselhos das cidades, que eram obrigados a contribuir para vários serviços que lhes prestava o Estado; 3) mediante o templo, por cujos rendimentos as autoridades sempre mantiveram um especial interesse.
Ao longo dos anos 6-135 d.C., devemos entender os muitos conflitos havidos como expressões de um único movimento popular que não conseguiu articular-se atrás de uma “vangarda” senão nos últimos anos, quando Simão Bar-Kokba (= Bar Cosiba) o dirigiu até sua destruição pela força das armas romanas.
Por volta do ano 30 d.C, surgiu na Galiléia um movimento em torno de um mestre de Nazaré chamado Jesus. Conhcemo-lo através de quatro Evangelhos que foram escritos fora da Palestina, por seguidores interessados em Jesus não como líder popular e sim como fundador de um novo caminho rumo a Deus e à salvação aberta para todos, judeus e gentios. Destacam-se vários elementos no movimento de Jesus: primeiro e antes de tudo, viu o templo de Jerusalém e os mestres fariseus da Galiléia como o antagonismo principal ao Reino de Deus. Em segundo lugar, a estratégia do movimento de Jesus foi atacar no plano ideológico, buscando deslegitimar um domínio sustentado acima da lei de Deus. Deus é um pai bondoso e não um juiz temível. Em terceiro lugar, Jesus buscava desde já criar uma pequena comunidade que se organize segundo as relações de irmandade que caracterizarão o Reino de Deus. Depois da perseguição dos romanos, o movimento de Jesus não teve papel de importância na defesa de Jerusalém. Foi obrigado a sair de Jerusalém, sobrevivendo nas cidades do império, onde se formaram “igrejas” para pôr em pratica a esperança popular do movimento.
Com a queda de Jerusalém a rebelião contra o império perdeu toda possibilidade de êxito. Os líderes revolucionários e populares puderam aglutinar uma grande massa e efetuar uma guerra de grande envergadura. O decisivo, porém, na derrota das forças populares foi o poderio incomensuravelmente superior das legiões romanas, que terminou esmagando toda resistência. As medidas dos romanos conseguiram eliminar da Palestina os restos do experimento Israel. Cidades helenísticas dominaram o território, os centros religiosos e culturais de Israel foram destruídos, e a identidade cultural dos camponeses foi rapidamente eliminada. Aqui termina a história de Israel, o povo de Javé.


2 APRECIAÇÃO CRITICA
A obra passa de forma sintética, objetiva e clara por todo o período da história de Israel. Desta forma, apresenta um excelente guia para, de forma geral, conhecer as fases e períodos desta história. Apresenta uma reflexão sobre os modos de produção controlados pelos regimes monárquicos, enfatizando o papel da religião para tal situação. E ainda apresenta um pouco da literatura desenvolvida nestes períodos.
Servindo-se da linha cronológica o autor vai demonstrando as causas e conseqüências dos períodos da história de Israel. Desta forma, utiliza-se de uma linguagem simples e de fácil compreensão que ajuda o leitor na clareza das idéias. Contudo, sua simplificação acaba prejudicando a profundidade e cientificidade do texto – problema que parece não ser a preocupação do autor. Com isso, o texto torna-se insuficiente, ou ao menos pouco recomendável para uma pesquisa cientifica.
Porém, isso não tira os méritos da obra. Com ele, a história de Israel torna-se mais acessível a uma população mais simples e que não dispõe com imensa capacidade de uma ferramenta de reflexão critica, filosófica, sociológica e teológica. Além disso, a obra se porta como uma abordagem panorâmica (e atinge com moderado louvor) de toda a história de Israel, suscitando no leitor o interesse pela pesquisa mais intensa sobre o assunto.
Suas reflexões sociológicas sobre os modos de produção são, além de interessantes, o bojo da obra – visto que o próprio título da obra acentua a abordagem da história a partir da classe dos pobres. Deste modo, o livro tem o seu destaque em relação às demais fontes de história. Esta analise consegue, no entanto, explicar com exatidão as mudanças e as situações ocorridas em Israel ao longo de sua história. Além é claro das interferências provocadas pelo templo dentro da sociedade e as revoltas populares contra este regime. Porém, sua analise poderia ter ido mais fundo e buscado não apenas os critérios religiosos e políticos, mas também econômicos, sociais, históricos e filosóficos (no sentido de ideológicos).
Seu enfoque sobre a produção literária é bem significativo e consegue exprimir de modo sucinto a gênese das correntes literárias do antigo testamento. Apoiado na reflexão sociológica, mostra como o meio social marca de forma significativa o modo de pensar, de agir e de escrever de uma sociedade. Além de mostrar os objetivos e finalidades de cada texto.


BIBLIOGRAFIA
PIXLEY, Jorge. A História de Israel a partir dos pobres. São Paulo: Ed. Loyola, 2002.

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